Carta nº 9
O Sr. Pierrepont tem investido mais do que ele deveria em rosas, e seu pai quer mudar seus pensamentos para investir em coisas mais básicas.
De John Graham, em Hot Springs, Arkansas, para seu filho, Pierrepont, na Union Stock Yards em Chicago.
Hot Springs, 30 de janeiro, 189-.
Caro Pierrepont,
Eu percebi imediatamente que havia um erro, quando abri o anexo e vi uma conta de cinquenta e dois dólares, “para rosas enviadas, conforme ordenadas, à senhorita Mabel Dashkam”. Eu não conheço a senhorita Dashkam, mas se ela for a filha do velho Job Dashkam, do Conselho, eu devo dizer, de modo geral, que ela é uma boa garota para deixar outro homem se casar. A última vez que eu a vi, ela estava carregando aproximadamente dez mil dólares dos pés à cabeça – e isso é mais capital que qualquer mulher deveria amarrar em suas costas, não importa o quão rico seu pai seja. E a fortuna de Job é daquele tipo que aparece milionária no jornal e deixa os herdeiros endividados após pagar os custos do inventário.
Eu nunca tive experiência nesse negócio de cortejar, exceto com sua Mãe; mas eu vi do outro lado da cerca a multidão de companheiros se aventurando, e eu devo dizer que, casar com uma garota como Mabel Dashkam seria o primeiro passo para se tornar um viúvo de terras. Eu aposto que se você disser a ela que está ganhando doze dólares por semana e não vai ganhar mais até que mereça, não poderá chegar a uma milha dela nem dentro de um navio quebra gelo. Ela é uma daquelas pessoas que tem o coração como o valor de uma ação – só se mexe por dinheiro.
Você não está em posição nem de pensar em se noivar, e por isso eu estou preocupado por você já estar planejando se casar. Um funcionário de doze dólares, que deve cinquenta e dois dólares em rosas, precisa mais de um carcereiro do que de uma esposa. Eu quero deixar claro que sempre chega o momento em que o companheiro que gasta isso em flores pensa o quanto poderia ter comprado em estoques básicos. Afinal, não existe tolo como o tolo jovem, porque na natureza das coisas ele ainda tem um longo tempo de vida.
Eu penso que estou soprando ar quando peço que você seja guiado pela minha opinião nesse assunto, porque, enquanto um jovem consulta seu pai sobre comprar um cavalo, ele é muito convencido de si quando se trata de escolher uma esposa. Casamentos podem ser feitos no céu, mas a maioria dos noivados é feita no quarto dos fundos, com tão pouca luz que o jovem não sabe no que ele está se metendo. Apesar de um homem não ver muito da família da garota durante o cortejo, ele passa a ver demais enquanto está cuidando da casa; e apesar dele não casar com o pai da garota, não há nada nos votos matrimoniais que previnam que o velho pegue seu dinheiro emprestado, e você pode apostar que se for o velho Job Dashkam, ele o fará. Um homem não pode escolher sua própria mãe, mas ele pode escolher a mãe do seu filho, e quando ele escolhe um sogro que gosta de especular, ele não deve se surpreender se seu filho virar um apostador de cavalos.
Nunca se case com uma garota pobre que foi criada como rica. Ela simplesmente trocará as virtudes dos pobres pelos vícios dos ricos, sem ter os pontos positivos deles. Casar por dinheiro ou casar sem dinheiro são crimes. Não há nenhuma objeção real para se casar uma mulher com uma fortuna, mas há para casar uma fortuna com uma mulher.
Quando você for escolher, não há nada como uma esposa bonita, porque mesmo a mais linda vai parecer comum algumas vezes, e então você tem um pouco de variedade. Beleza tem apenas a profundidade da pele, mas isso é profundo o suficiente para satisfazer qualquer homem sensato. (Eu quero deixar claro que para compreender um provérbio, eu penso que devo virá-lo do avesso). Então, também, se um camarada se sujeita a se casar com uma tola, e muitos homens têm que se sujeitar para se casar com alguém compatível, então não há nada como escolher uma tola bonita.
Eu apenas menciono isso de forma geral, porque me parece, pelo andamento das suas atitudes, que você vai se encontrar amarrado e marcado qualquer dia desses, sem saber direito como aconteceu; e eu quero que você saiba que a garota que se casar com você pelo meu dinheiro vai receber um pacote de verduras de diversas variedades. Eu penso, entretanto, que se você realmente entendesse o que significa se casar ganhando doze dólares por semana teria comprado uma cama ao invés de rosas, com aqueles cinquenta e dois que você deve.
Falando sobre casar com o dinheiro do pai, naturalmente me faz lembrar de minha velha cidade em Missouri, e o caso de Chauncey Witherspoon Hoskins. O pai de Chauncey era dono da vila inteira, da estação de trem ao bar, e claro, Chauncey pensava que também era alguém. E ele era, mas não exatamente o tipo que pensava. Ele media um metro e sessenta centímetros, era rosado, tinha cabelos bem ondulados, e um bigode crespo. Tudo o que ele precisava era de uma fita azul ao redor de seu pescoço para fazer você chamar, “Aqui, Fido”, quando ele entrava na sala.
Ainda assim, eu acredito que ele deve ter sido muito popular com as mulheres, porque eu não consigo pensar nele sem querer lhe dar um murro na cara. Nos eventos sociais da igreja ele costumava dançar entre elas, ciscando e cantando como um passarinho; e ele tinha uma mão maravilhosa para o piano, e cantava músicas tristes e doces para elas. Sempre dizia as coisas mais suaves, e as dizia com facilidade. Nunca engolia ou engasgava tentando dizer novamente. Nunca pisava no vestido de sua parceira quando começava a dançar, ficava nervoso quando trazia refrescos ou acabava derrubando café em seu colo ao invés do pires. Nós garotos, que não conseguíamos andar pelo salão sem saber que nossas calças tinham subido a não ser que estivessem acima dos joelhos; e que carregávamos presuntos escondidos no lugar das mãos, não gostávamos dele; mas as garotas gostavam. Você pode confiar no gosto de uma mulher para tudo, a não ser para homens; e é uma sorte extrema que elas escorreguem dessa forma, senão seríamos todos solteiros. Eu devo acrescentar que você não deve confiar no gosto de um homem por mulheres, tampouco, e isso é sorte também, porque existem ótimas disponíveis no mundo de hoje.
Chauncey visitou os melhores quartos de todas as casas da cidade ao menos uma vez, e nós costumávamos imaginar como ele conseguia andar pela rua sem ser encurralado. Eu nunca tinha descoberto até casar com sua Mãe, e ela me contou seus segredos. Realmente ela não estava violando nenhuma confidência, pois ele contava para todas as garotas da cidade.
Parece que ele costumava ficar terrivelmente triste, logo que era deixado num quarto a sós com uma garota e começava a insinuar sobre uma tragédia em seu passado – algo que arruinou sua vida inteira, e o deixou incapaz de amar novamente – e muitas outras conversas do mesmo tom.
Claro, toda garota da cidade conhecia Chauncey desde o tempo em que ele usava calças curtas, e sabia que o mais próximo de uma tragédia que ele viveu foi quando se sentou no camarote de um teatro em Chicago para assistir atores encenarem Otello. Mas algumas pessoas, especialmente jovens, não acham que vale a pena acreditar em nada a não ser que seja algo difícil de acreditar.
Chauncey trabalhou nessa linha até seus vinte e quatro anos, e então ele cometeu um erro. A maioria das garotas com quem ele cresceu estavam casadas, e enquanto ele estava esperando por um novo lote, ele começou a se interessar pela viúva Sharpless, que tinha nascido com seus caninos cortados. Ele a achava excepcionalmente simpática. E quando Chauncey finalmente saiu de seu transe, ele era o padrasto dos quatro filhos da viúva.
Ela era muito gentil com Chauncey, e tratava ele como um de seus filhos; mas ela era muito, muito firme. Não existia mais isso de vagabundear sozinho, e quando eles saíam juntos, estranhos costumavam irritá-lo consideravelmente ao dizer: “Que filho lindo a senhora tem, Sra. Hoskins!”.
Ela tinha quase setenta anos quando Chauncey a enterrou, um tempo atrás, e ele começou a perceber a perda na volta do funeral. Em todo caso, ele carregou seu luto por sessenta dias – eu concluo que ele tinha espaço para mais tempo – e carregou seu cortejo por mais sessenta. Quatro dias depois apresentou novos papéis de matrimônio no cartório. Disse que estava cansado dessa bobagem de mãe e filho, e não iria deixar espaço para dúvidas dessa vez; não se casou para ter pessoas questionando se sua esposa era um de seus ancestrais. Então ele casou com Lulu Littlebrown, que acabava de fazer dezoito anos. Chauncey tinha mais de cinquenta na época, e tinha encolhido como uma maçã que passou a noite na geada.
Ele levou Lulu para Chicago em sua lua de mel, e Mose Greenebaum, que estava indo para a cidade buscar suas compras de outono, dividiu o mesmo vagão que eles. Disse que de tempos em tempos o cabineiro passava e parava ao lado de Chauncey.
“Sua filha não gostaria de mais um travesseiro para a cabeça?” dizia ele.
Chauncey apenas resmungava – “Saia daqui!”. Até o cabineiro se tocar.
Mose estava vendo tudo, e foi para o fumódromo nos fundos e contou para os viajantes lá. A cada tempinho um deles parava no corredor ao lado de Chauncey, e perguntava se poderia emprestar uma revista a sua filha, ou dar uma laranja, ou trazer uma bebida. E a linguagem que ele usava em resposta a essas cortesias não eram dignas nem no salão de carteado. Então Mose pensou em outra brincadeira, e saltou em uma estação qualquer e ligou para o funcionário na Casa Palmer.
Quando eles chegaram no hotel o recepcionista estava à espera deles, e Chauncey nem tinha feito o check in quando ele perguntou: “Ah, Sr. Hoskins você quer que sua filha fique num quarto perto do seu?”.
Eu apenas menciono Chauncey de passagem, como um exemplo da tolice em pensar que você pode correr riscos com uma mulher que está realmente decidida que quer se casar; ou que você pode tirar uma média dos casamentos errados. E eu quero que você se lembre que, casar com a garota errada é um erro que você tem que viver por toda sua vida. Eu penso, contudo, que se você disser a Mabel quais são seus ativos, ela decidirá que esse erro, você não cometerá.
Seu pai afetuoso,
John Graham.