Carta nº 2
As despesas do Sr. Pierrepont acabaram de chegar a seu pai, e elas o muniram de um texto para esclarecer algumas particularidades.
De John Graham, na Union Stock Yard em Chicago, para seu filho Pierrepont, na Universidade de Harvard.
Chicago, 4 de maio de 18—.
Caro Pierrepont, o contador acabou de me entregar suas despesas do mês, e elas fazem qualquer homem se entortar todo para lê-las. Quando eu disse que queria que você tivesse uma educação liberal, eu não quis dizer que queria que você comprasse Cambridge. Claro que as contas não irão me quebrar, mas irão te quebrar a não ser que você seja muito, muito cauteloso.
Eu notei que nos últimos dois anos suas contas têm crescido a cada mês, mas ainda não vi nenhum sinal de você se honrar para justificar o aumento das despesas operacionais; e isso é mal negócio – muito parecido com alimentar com milho um novilho que não engorda.
Eu não tinha dito nada disso antes, porque eu confiava em seu senso comum para prevenir que se tornasse um tolo, como alguns desses jovens que nunca tiveram que trabalhar. Mas só porque eu aturei até agora, eu não quero que você coloque na sua cabeça que seu pai é rico, e que ele pode suportar, porque ele não irá suportar depois que você sair da universidade. Quanto antes você ajustar seus gastos à sua capacidade de rendimento, mais fácil eles acharão conviver juntos.
A única maneira certa que um homem pode ficar rico rápido é ter sido de presente ou por herança. Você vai ficar rico por herança – mas não até que você tenha provado sua habilidade de manter uma posição importante na firma; e, claro, só existe um lugar por onde um homem pode começar para ter essa posição na Graham & Co. Não importa se ele é o filho do dono ou do porteiro – e o lugar é o piso. E o piso em nosso negócio é um assento na sala dos mensageiros, por oito dólares todo sábado à noite.
Eu não consigo te entregar nenhum sucesso pronto. Não te faria bem nenhum, e faria mal para a Casa. Tem lugar suficiente aqui no topo, mas não existe elevador no prédio. Começando como você está, com uma boa educação, você deverá ser capaz de escalar mais rápido que qualquer companheiro que não a teve; mas quando você começar na firma, você não será capaz de lamber selos tão rápido quanto os garotos nas mesas. E o homem que não lambeu selos, não está pronto para escrever cartas. Naturalmente, é nessa hora em que saber dirigir um automóvel ou se a torta chega antes do sorvete não terá nenhum uso para você.
Eu simplesmente menciono essas coisas, porque eu estou preocupado que suas ideias sobre onde você vai começar na Casa tenham te inchado um pouco aí no Leste. Eu posso te dar um começo, mas depois você vai ter que se dinamitar para frente. Tudo depende do homem. Se você der a alguns companheiros talento para negócios enrolado num guardanapo, eles iriam trocar o talento por uma barra de ouro e perder o guardanapo; e terão outros que poderiam começar apenas com um guardanapo, e começariam nos negócios de maneira pequena, e depois colocariam o talento do outro companheiro dentro de seu guardanapo.
Eu sou orgulhoso o suficiente para acreditar que você é feito de coisas boas, mas eu quero ver um pouco aparecendo. Você nunca se tornará um bom comerciante invertendo a ordem em que Deus decretou que devemos proceder – aprendendo a gastar antes do dia de ganhar. O dia do pagamento é sempre no mês seguinte para o gastador, e ele nunca consegue ter mais do que sessenta centavos do dólar que vem para ele. Mas um dólar vale cento e seis centavos para um bom homem de negócios, e ele nunca gasta o dólar que sobra. É o homem que continua guardando e gastando pouco que ganha juros pela preocupação. É aí que você vai se achar frágil, se suas despesas não mentirem; e elas normalmente não mentem dessa forma particular.
Eu sei que quando vários jovens ficam sozinhos, alguns deles pensam que agir displicentemente com dinheiro marca eles como bons amigos, e que ser cuidadoso é ser bobo. Esse é um lado da educação universitária que está amaldiçoada, e é a única coisa que faz 9 entre 10 homens hesitarem em mandar seus garotos para a escola. Mas por outro lado, esse é o ponto onde um jovem tem a chance de mostrar que ele não é um peso pena. Eu sei que uma boa porção de pessoas diz que eu sou pão-duro; que eu faço cada porco que passa pelo meu frigorífico dar mais carne do que Deus o deu em peso; que eu melhorei a natureza ao ponto de tirar quatro presuntos de um animal que começou a vida com dois; mas você viveu comigo tempo suficiente para saber que minha mão está no bolso na hora certa.
Eu quero dizer aqui que o pior tipo de homem vivo é aquele que é generoso com o dinheiro que ele não teve que suar para conseguir; e que o garoto que é um bom amigo às custas de outra pessoa não serve para ser fertilizante de última categoria. Aquela mesma ambição de se tornar um bom amigo encheu meu escritório de assistentes de última categoria, e eles serão sempre assistentes. Se você puder, se segure até ter trabalhado por um ano. Então, se sua ambição for trabalhar toda a semana numa mesa, para ganhar oito dólares por semana e torrar em algumas rodadas de drinques para os amigos no sábado à noite, não há objeção em satisfazê-la; porque eu saberei que Deus não quis que você fosse seu próprio chefe.
Você sabe como eu comecei – eu comecei sendo chutado, mas se provou ser um chute para cima, e desde então todo mundo me levantou um pouco mais alto. Eu consegui dois dólares por semana, dormi debaixo do balcão, e você pode apostar que eu sabia quantos centavos tinham em cada um daqueles dois dólares, e quão duro era o chão. É isso que você tem que aprender.
Eu me lembro quando eu estava nos Lagos, nossa escuna estava passando por Buffalo quando eu vi o pequeno Bill Riggs - o açougueiro - de pé no final da ponte com um pedaço grande de rosbife na sua cesta. Eu perguntei a ele quanto custava, e ele gritou de volta, “mais ou menos um centavo”. Era um bife muito bom, e quando nós passamos por Buffalo de novo na viagem de volta, eu queria um pouco mais. Então eu fui na loja do Bill e pedi outro pedaço do mesmo. Mas dessa vez ele me deu um rosbife pequeno, nem um pouco perto do tamanho do outro, e estava duro e seco. Mas quando eu perguntei a ele quanto custava, ele respondeu “mais ou menos um centavo”. Ele simplesmente não tinha nenhum senso de valores, e esse é o sexto sentido do homem de negócios. Bill sempre foi um grande, saudável e duro trabalhador, mas até hoje ele é muito, muito pobre.
Os Bills não duram muito no negócio de carnes. Eu tenho alguns deles agora em meu escritório, mas eles nunca passarão pelo trilho que separa os assistentes dos executivos. Se eles pensassem pela Casa a metade do tempo que pensam criando razões para tirar dinheiro de suas contas salário, eu não poderia mantê-los fora de nossos escritórios, e nem iria querer, porque eles poderiam dobrar seus salários e meus lucros em um ano. Mas eu sei que o companheiro que tem que quebrar o cofrinho do filho antes do final da semana para pagar o passe do bonde não será nenhum mestre das finanças com o dinheiro do Velho. Ele iria deixar minha conta bancária cheia de furos como um bando de texanos faria com um homem que eles encurralaram.
Eu sei que você dirá que eu não entendo como é, que você tem que fazer como seus companheiros, e que as coisas mudaram desde que eu era um garoto. Tudo bem. Adão inventou todas as maneiras diferentes que um jovem pode testar para se tornar um tolo, e a universidade não muda os essenciais. O garoto que faz qualquer coisa só porque outros companheiros fazem, está propenso a coçar as costas de um homem por toda sua vida. Ele é o cara que compra trigo a noventa e sete centavos um dia antes do mercado quebrar. Os relatórios de mercado o chamam de “interiorano”, mas a cidade está cheia deles. É o companheiro que tem capacidade de pensar e agir por si, e que vende logo antes dos preços atingirem o máximo, enquanto todos esperam que suba mais, que senta nas reuniões de diretores quando chega aos quarenta anos.
Eu tenho um boi velho que fica andando nos currais que levam ao matadouro, olhando para o mundo como um daqueles sujeitos de cidade pequena sentado numa caixa de feira – com olhos meio tristes, sonhando – com alguns palitos de dente saindo do canto da boca. Você nunca viu um boi parecer ter menos interesse nas coisas do que ele. Mas de tempos em tempos os garotos trazem os bois até ele, ou vacas talvez, se estivermos embutindo, e você vê o Velho Abe se mover para frente da fila, meio que convocando o bando atrás com aquele rabo velho, como se tivesse algo interessante para eles lá no topo, e algo que todo Texano e Colorado - cru das pradarias - tem que ver para colocar um toque metropolitano em si. Aqueles bois naturalmente o seguem pelo caminho adentro do matadouro. E assim que eles chegam ao topo, o Velho Abe, de alguma maneira, se perde na multidão, e ele não está entre aqueles presentes quando os portões se fecham e o problema começa de verdade para seus novos amigos.
Eu nunca vi doze garotos juntos que não tivesse um Velho Abe entre eles. Se você encontrar sua turma o seguindo, fique longe! Há horas em que é mais seguro estar sozinho. Use um pouco de senso comum, cautela e consciência. Você pode estocar uma loja com essas três commodities, quando você tiver suficiente delas. Mas você tem que começar a guardá-las enquanto jovem. Elas não serão adquiridas depois que você tiver envelhecido.
Você não precisa me escrever de volta se achar que as está adquirindo. Os sintomas aparecerão nas suas próximas despesas. Adeus, a vida é muito curta para escrever cartas e Nova Iorque está me chamando.
Seu pai afetuoso,
John Graham.