Carta nº 18
O Sr. Pierrepont está preocupado com rumores de que o velho está mal posicionado em banha, e que o mercado está operando ao contrário.
De John Graham, na Casa Graham & Co. de Londres, para seu filho, Pierrepont, na Union Stock Yards em Chicago.
Londres, 27 de outubro, 189-.
Caro Pierrepont,
Eu notei os recortes de sua carta do dia 21. Você não precisa prestar atenção a essa conversa dos jornais sobre o pessoal da Câmara de Comércio ter me feito perder dinheiro com banha. Eu nunca vendo produtos sem saber onde posso acha-los, na quantia que eu quiser; e se esses camaradas tentarem seguir em frente, ou começarem a forçar e se organizar, eles me verão esquecendo os modos à mesa também. Pois quando começam a fazer gracinhas, eu sou um bom humorista. E apesar ser muito velho para correr, eu sou jovem o suficiente para levantar e lutar.
Muitos homens já tentaram me caçar, mas eles sempre planejaram o funeral antes de pegar o defunto. Não teve um momento em 20 anos quando não tivesse uma bonita placa escrita “Aqui jaz” para mim em algum escritório da Câmara de Comércio. Mas o essencial de um funeral calmo é um corpo disposto. E eu ainda estou de pé e nutrido.
Existem 2 coisas que você não deve prestar atenção – abuso e adulação. A primeira não pode te machucar e a segunda não pode te ajudar. Alguns homens são como cachorros amarelos – quando você está indo em direção a eles, eles pulam e tentam lamber suas mãos; e quando você se afasta deles, eles se esgueiram até você e mordem seu calcanhar. No ano passado, quando eu estava ameaçando o mercado, todos os vendedores disseram que eu era um filantropo de coração mole, que estava passando noites em claro esquematizando para conseguir aos fazendeiros o maior preço para seus porcos; e os compradores disseram que eu era um ladrão velho infame, que estava roubando porco do pote dos trabalhadores. Enquanto você não puder agradar os 2 lados nesse mundo, agrade o seu próprio lado.
Existem poucas pessoas que podem ver qualquer lado de qualquer coisa que não seja seu próprio. Eu me lembro que uma vez eu tive um imóvel vago na Avenida, e uma dama veio a meu escritório, de modo todo sentimental, perguntando se eu emprestaria a ela, pois ela queria construir uma creche nele. Eu hesitei um pouco, porque eu nunca tinha ouvido falar sobre creche antes, e de certa forma soava estrangeiro e fogoso, apesar da mulher parecer boa, segura, velha e confiável. Mas ela explicou que uma creche era uma fazenda de bebês, onde empregadas vinham dar banho, amamentar e brincar com crianças de outras pessoas enquanto suas mães estavam trabalhando. É claro, nada nisso faria o pastor ou a polícia me perseguirem, então eu disse que ela poderia seguir em frente.
Ela saiu feliz da vida, mas uma semana depois ela apareceu novamente, parecendo insatisfeita, querendo saber se eu não construiria a creche. Parecia importante, então eu enviei alguns carpinteiros para construir um pavilhão. Ela ficou extremamente grata, pode apostar, e eu não a vi por 15 dias. Então ela apareceu para dizer que, se não custasse muito para mim, e eu estivesse nesse ramo, se eu não poderia dar algumas vacas a ela. Ela tinha uma expressão surpresa e sofrida em seu rosto enquanto falava, e da forma que ela colocou, eu senti que deveria ficar envergonhado por não ter pensado em doar o gado. Então eu adicionei meia dúzia de vacas para prover leite.
Eu pensei que estivesse fazendo uma boa ação, mas os carpinteiros mal tinham terminado o pavilhão, quando a mulher telefonou com uma mensagem ríspida para perguntar porque eu não tinha mandado pintarem.
Eu estava ocupado demais aquela manhã para discutir, então eu mandei que arrumassem; e quando eu estava dirigindo por lá no dia seguinte os pintores estavam trabalhando duro. O barracão tinha uma fachada de 20 metros de frente para a Avenida, e eu percebi na hora que era um lugar natural para um letreiro. Então eu chamei o pintor chefe e entre nós pedi que colocasse um pequeno anúncio que dizia algo como:
“Extrato Graham:
Deixa os fracos fortes.”
Bem, senhor, quando ela viu o anúncio na manhã seguinte, aquela mulher apenas arranhou o cascalho. Andou pela cidade inteira dizendo que eu tinha dado um barracão de 500 dólares para caridade e pintado um letreiro de 1 mil dólares nele. Disse que eu deveria enviar um cheque naquele valor para a conta da creche. E ficou falando disso até que eu comecei a pensar que ela tinha razão, e enviei o dinheiro. Então eu encontrei um companheiro que queria construir naquele bairro, e vendi a ele o imóvel bem barato, e saí do mercado de creche.
Eu coloquei muito mais do que trabalho em meu negócio, e tirei muito mais do que dinheiro dele; mas a única coisa que eu coloquei nele que nunca tirei em dividendos ou em diversão foi preocupação. Esse é um braço do negócio que você quer deixar para seus concorrentes.
Eu sempre achei que se preocupar fosse mais incerto que apostar em cavalos de corrida – é mais difícil saber quem será o vencedor. Você vai para casa preocupado, porque está receoso que seu novo funcionário esqueceu de trancar o cofre depois de você, e que durante a noite a refinaria de banha de porco pegou fogo; você passa 1 ano incomodado porque pensa que Bill Jones vai roubar a garota dos seus sonhos, e então você passa 10 anos incomodado porque ele não roubou; você se preocupa com Charlie na faculdade porque ele é um pouco bruto, e ele lhe escreve para dizer que foi eleito presidente da YMCA; e você se preocupa com William porque ele é tão religioso que você tem medo dele largar tudo e ir para a China como um missionário, e ele vai lhe pedir 100 dólares emprestados; você se preocupa porque você tem medo do seu negócio quebrar, e sua saúde fracassa no lugar. Se preocupar é o único jogo em que, se você estiver certo, você não tem satisfação na sua esperteza. Um homem ocupado não tem tempo para lidar com isso. Ele sempre pode encontrar pessoas que passam seus dias e noites se preocupando por ele.
Falando sobre entregar suas preocupações aos outros, naturalmente me vem à mente o caso da Viúva Williams e seu filho Bud, que era meu colega quando era garoto. Bud era o problema mais novo da Viúva, e ela era uma mulher cujos problemas raramente vinham separadamente. Tinha 14 no total, e 4 pares eram gêmeos. Costumava soltá-los de manhã, quando ela soltava suas vacas e porcos para pastar pela rua, e então ela largava toda sua preocupação por eles o resto do dia. Dizia que se eles se machucassem os vizinhos os trariam para casa; e se ficassem com fome eles voltariam. E de alguma forma, todos sempre voltavam salvos e sujos pra hora da refeição.
Eu não tenho dúvidas de que ela gostava muito de Bud, mas quando uma mulher tem 14 filhos, meio que perturba sua mente de modo que ela não consegue focar sua atenção ou ter nenhum favorito. E então quando as roupas de Bud foram encontradas na lagoa um dia, e Bud não estava nelas, ela não aceitou as expectativas dos vizinhos que deram a notícia e ficaram esperando que ela fosse ter algum ataque.
Ela admitiu que eram as roupas de Bud, sim, mas ela queria saber onde estavam seus restos. Insinuou que não haveria funeral, ou qualquer gasto do tipo, até que alguém produzisse um morto. De modo geral, ela era como um frio e calmo pepino.
Mas se ela mostrou um pouco de resignação Cristã, o resto da cidade estava extremamente abalado com a morte de Bud, e todos faltaram no trabalho para falar sobre o quão nobre o garoto era; e como sua mãe não merecia ter um raio de sol daqueles em sua casa; e para procura-lo entre as conversas e as lembranças. Mas eles não conseguiam uma aparição.
Através de toda a preocupação e excitação a Viúva era a única que não demonstrou nenhum interesse especial, exceto para perguntar sobre resultados. Mas finalmente, ao final de uma semana, quando eles coaram o rio inteiro com suas dragas e não tinham nada para mostrar a não ser uma coleção de latas e bagres mortos, ela colocou um xale sobre sua cabeça e foi até a cabana de Louisiana Clytemnestra, uma velha mulher que entrava em transe por 4 centavos e encontrava uma fortuna por 1 dólar. Eu penso que hoje ela se intitularia como clarividente, mas na época ela era apenas uma mulher que fazia vudu.
Bom, a Viúva disse que garotos deveriam custar metade do preço, e então ela pagou 2 centavos, e disse que queria ter uma conversa privada por alguns minutos com seu Bud. Clyte disse que tentaria seu melhor, mas que espíritos eram extremamente mesquinhos e superiores, mesmo quando tinham sido pobres na terra, e poderia deixa-los malucos serem tirados de seus caminhos se fossem receber pouca recreação, ou de seus clientes bom pagadores de Nova Iorque se estivessem trabalhando. Ainda, ela daria uma chance, e ela deu. Mas depois de ter tido convulsões por meia hora, ela desistiu. Concluiu que Bud estava fazendo alguma maldade por aí, e que ele não iria atender por míseros 2 centavos.
A Viúva estava seriamente desapontada, mas disse que era típico de Bud. Ele sempre foi um garoto que nunca podia ser encontrado quando alguém queria. Então ela saiu, dizendo que já tinha gasto dinheiro demais ao ver Clyte ter aquelas crises extravagantes. Mas no dia seguinte ela voltou e pagou 4 centavos, e Clyte concluiu que aquilo iria trazer Bud com certeza. Mas por algum motivo, ela não teve nenhuma sorte, e finalmente a Viúva sugeriu que ela chamasse o pai de Bud – Buck Williams tinha morrido há cerca de 10 anos – e o velho respondeu prontamente.
“Onde está Bud?” perguntou a Viúva.
"Não o vi. Não sabia que ele tinha atravessado. Ele se converteu à igreja antes de partir?"
“Não”.
"Então você deve procurar por ele no andar de baixo.”
Clyte disse à Viúva para voltar mais uma vez e eles com certeza o trariam. Então ela voltou no próximo dia e pagou 1 dólar. Isso trouxe o fantasma do velho Buck Williams num pulo, pode apostar, mas ele disse que ainda não tinha visto Bud. Eles rebocaram o rio inteiro e não conseguiram achar nada dele. Clyte encontrou George Washington, e Napoleão, e Billy Paterson, e Ben Franklin, e Capitão Kidd, apenas para mostrar que não era mentira, mas eles não conseguiram ouvir nenhum sussurro de Bud.
Eu concluo que Clyte estava amarrando a Viúva, tentando produzir o fantasma de Bud, mas ela não teve chance. Pois ali mesmo a senhora levantou com uma expressão séria em seus lábios e saiu correndo, murmurando que era o que ela sabia desde o início – Bud não estava lá. E quando os vizinhos visitaram sem avisar naquela tarde para preparar um memorial para seu “cordeiro perdido”, ela os perseguiu com uma vassoura para fora do terreno. Disse que eles procuraram por ele no rio e que ela procurara por ele além do rio, e que eles iriam esperar prontos para ele fazer seu próximo movimento. Disse que se ela pudesse ao menos encostar na pele daquele “cordeiro perdido” teria uma abertura para um funeral, mas até lá não haveria. De modo geral, parecia que Bud estaria com sérios problemas se ele tivesse cometido algum erro e ainda estivesse vivo.
A Viúva encontrou seu “cordeiro perdido” escondido atrás de um barril de chuva quando abriu a casa na manhã seguinte, e houve uma cena extremamente afetuosa e tocante. Na verdade, a Viúva deve ter tocado nele umas 100 vezes e em todas elas ele saía comovido por lágrimas, pois ela estava usando um sarrafo de estrado de cama, que é um agente moral poderoso para fazer um garoto ver o erro de suas maneiras. E passou 1 mês depois disso para que Bud pudesse andar na Rua Principal sem algum homem que o chamara de nobre garoto, ou de brilhante homenzinho, enquanto ele estava afogado, tentar alcança-lo e dar-lhe um tapa na orelha por ter voltado da morte.
Ninguém exceto a Viúva entendeu de verdade a lógica da conduta de Bud, pois parece que ele saiu de casa para brincar de caçar índios, e voltou para um pão de bacon e milho.
Eu simplesmente menciono a Viúva de passagem como um exemplo do fato de que tempo para se preocupar é quando algo já se resolveu, e que a forma de fazer isso é deixar para os vizinhos. Eu velejo para casa amanhã.
Seu pai afetuoso,
John Graham.