Carta nº 13
Os pedidos do Sr. Pierrepont estão aumentando, então o Velho lhe dá um tapa nas costas, mas não tão forte.
De John Graham, na Union Stock Yards em Chicago, para seu filho, Pierrepont, Mercado Hoosier Co., Indianapolis, Indiana.
Chicago, 10 de maio, 189-.
Caro Pierrepont,
Aquele pedido de um caminhão inteiro de Spotless Snow Leaf do velho Shorter é o tipo de fofoca que eu gosto de ouvir. Nós podemos suportar mais desse tipo de ousadia. Eu disse ao financeiro que você vai tirar trinta dólares por semana depois disso, e que eu quero que você mande fazer um bom terno e envie a conta para mim. Mande costurar algo que não faça as pessoas questionarem se você é um apostador de cavalos ou trabalha como dançarino. Seu gosto em roupas deve durar mais do que o resto de sua educação superior. Na última vez que você esteve aqui, parecia uma jovem viúva na segunda colheita de margaridas em homenagem ao marido.
É claro, roupas não fazem o homem, mas elas fazem tudo dele a não ser suas mãos e seu rosto durante o horário comercial, e isso é uma área bem considerável do animal humano. Uma camisa suja pode esconder um coração puro, mas raramente cobre uma pele limpa. Se você aparentar ter dormido de roupas, a maioria dos homens irá concluir que você dormiu; e você nunca os conhecerá bem o suficiente para explicar que sua cabeça é tão cheia de pensamentos nobres que não teve tempo de se preocupar com a caspa nos seus ombros. E se você usar calças listradas azul e branco e uma gravata borboleta vermelha, vai ser difícil chegar perto de um padre para pedir que diga as graças em sua mesa, mesmo se nunca tiver apostado em nada, exceto com grãos de café ou feijão.
Aparências são enganosas, eu sei, mas já que são, não há nada como faze-las enganarem a nosso favor, ao invés de contra nós. Eu já vi cortes de barba de dez centavos e engraxates de cinco centavos conquistarem pedidos de mil dólares, e um cigarro e uma taça de champanhe afundarem um frigorífico. Quatro ou cinco anos atrás o pequeno Jim Jackson foi pego bebendo uma garrafa pequena momentos antes do mercado abrir, um dia depois de ter aumentado o preço de restos de porco para vinte dólares. Quem viu contou para todos os corretores da mesa. Os funcionários pensaram que Jim devia ter recebido notícias muito ruins, para estar bebendo aquela hora, então eles se animaram e venderam todo o mercado de resto de porco até o fundo da cova. Não tinha nenhum resto gorduroso sobrando naquele mercado quando eles terminaram. Na verdade, Jim não tinha recebido nenhuma má notícia; ele apenas estava bebendo porque estava se sentindo bem demais, e as coisas estavam boas para ele.
Mas ser correto não é o suficiente nesse mundo; você tem que parecer correto também, porque dois terços do sucesso é fazer com que as pessoas pensem que você é correto. Então você tem que ser guiado por regras, mesmo que você seja uma exceção. Pessoas já viram quatro mais quatro virar oito, e o jovem com a garrafa pequena no paletó representa com tanta frequência um tolo condenado, que é difícil convencerem que a combinação pode ter outro desfecho. O Senhor permite ao homem apenas a diversão que Ele cria. Alguns pescam a maior parte do tempo e ganham dinheiro no resto; outros ganham dinheiro a maior parte do tempo e vão pescar no resto. Você pode fazer sua escolha, mas as duas linhas de negócios não se simpatizam. Quanto mais dinheiro, menos peixe. Quanto mais longe você vai, mais ereto você tem que andar.
Eu costumava me confortar bastante ao mascar tabaco. Aprendi o hábito em Missouri, e mascava como um bom americano. Naquela época quase todo mundo daquelas partes mascava, a não ser os mais velhos e as mulheres, e a maioria deles cheirava. Parecia um hábito agradável, social, e eu nunca pensei muito sobre o assunto até que eu vim pro Norte e sua mãe começou a me dizer que aquilo era uma relíquia vil da barbárie, querendo dizer Missouri, eu suponho. Então eu me confinei a mascar no meu escritório e troquei para uma marca mais elegante.
Bom, um dia, há mais ou menos dez anos, quando eu estava andando pelo escritório, eu notei um dos garotos da mesa de correspondência, um jovem bem aparentado, meio que mexendo o maxilar conforme escrevia. Eu não parei para pensar, mas de alguma forma fiquei louco em um minuto. Mesmo assim eu não disse uma palavra – apenas parei e olhei para ele enquanto ele se inquietava do jeito que garotos fazem quando eles pensam que o Velho está olhando para ver quem vai receber o próprio aumento de salário.
Eu fiquei parado perto dele por bons cinco minutos, e o tempo todo ele estava fingindo não me ver. Eu aposto que ele era um garoto muito esperto, pois ele não enfraqueceu nem por um segundo. Mas por fim, vendo que ele estava prestes a morrer sufocado, eu disse de repente e agudo – “Cuspa.”
Senhor, eu pensei que era uma nuvem. Você pode apostar que eu fiquei bem nervoso, e eu comecei a espiralar aquele camarada. Mas antes de eu dizer qualquer coisa, eu me toquei de algo de repente, e eu apenas caminhei até o garoto e coloquei minha mão em seu ombro e disse, “Vamos jurar que vamos parar, meu filho.”
Naturalmente, ele jurou – ele estava tão assustado que ele teria parado de respirar se eu tivesse pedido a ele, eu imagino. E eu tive que dar todo meu estoque de tabaco para os pedintes.
Eu apenas menciono esse pequeno incidente de passagem, como um exemplo de que um homem não pode fazer o que ele quer nesse mundo, porque quanto mais alto ele escalar, mais claramente as pessoas podem vê-lo. Naturalmente, como o filho do dono, você tem muita gente te olhando e apostando que não é bom o suficiente. Se você for bem-sucedido eles dirão que foi um acidente; e se você falhar eles dirão que era fácil ter tido sucesso.
Existem dois pecados imperdoáveis nesse mundo – sucesso e fracasso. Aqueles que têm sucesso não perdoam um camarada por ser um fracasso, e aqueles que fracassam não o perdoam por ser bem-sucedido. Mas se você tiver sucesso, você vai estar ocupado demais para se preocupar muito com o que os fracassados pensam.
Eu me alongo um pouco sobre esse tema de aparências, porque tão poucos homens são animais realmente pensantes. Onde um homem lê o caráter de um estranho no rosto, centenas lêem nas roupas. Nós atendemos dúzias de duques, presidentes de universidades, e doutores da divindade aqui na Casa, e os trabalhadores nunca os notaram exceto para olhar torto quando eles estão no caminho. Mas quando John L. Sullivan visitou os armazéns ele simplesmente parou a fábrica. Os homens largaram os postos berrando e fizeram fila para aplaudi-lo. Você vê, John se vestia de forma adequada, e você não tinha que explicar que ele era o melhor dos lutadores de apostas. É claro, quando um camarada chega ao ponto de ser especial, ele não precisa ter que se preocupar se não parece nada especial; mas quando um jovem não é nada em particular, é extremamente valioso parecer ser especial.
Eu quero dizer que tudo bem o outro companheiro ser influenciado por aparências, mas está errado você ser influenciado também. Você deve apoiar boa aparência com bom caráter, e garantir que o outro companheiro faça o mesmo. Um homem desconfiado arruma problemas para si, mas um homem cauteloso os evita. Não é porque não existem maçãs podres na camada de cima, que é sempre seguro apostar que o barril inteiro está saudável.
Um homem não compra um cavalo por uma pechincha, só porque ele parece bonito. Como de praxe a pechincha apenas o faz pensar qual é o problema que faz o companheiro querer vender. Então ele leva o cavalo até o meio do terreno onde a luz vai atingi-lo bem e com força, e examina cada fio de sua crina, como se esperasse encontrar uma imitação; e ele fica vesgo debaixo de cada casco para encontrar o sinal de perigo; e ele olha dentro de sua garganta por segredos obscuros. Se o cavalo passa esse crivo o comprador o monta por vinte ou trinta milhas, esperando que ele vá se transformar num reclamão, ou descobrirá que ele empaca, ou se assusta, ou manca, ou desenvolve algum outro absurdo de cavalos. Se após tudo isso não existir sintomas ruins, ele oferece cinquenta a menos do que o preço pedido, por princípios, e por medo de ter deixado algo passar.
Homens e cavalos, em geral, são basicamente a mesma coisa. Não há nada como tentar colocar cabresto num homem, antes de você se comprometer a viajar muito longe com ele.
Eu me lembro de empregar na mesa de cobranças um garoto bonito, de barba feita, apenas por causa de sua aparência; mas ele se mostrou tão ruim com números que eu tive que demiti-lo ao final de uma semana. Parece que ele tinha penhorado seu barbeador por quinze centavos para conseguir um corte de barba no dia que me pediu emprego. Naturalmente, se eu soubesse disso desde o início o não teria contratado como um humano aritmético.
Outra vez, eu tive um cobrador que eu enviava para uma multidão de lojas nas redondezas. Ele sempre se comportava da maneira correta quando falava com você e ficava calado olhando no olho de seu alvo. Seu salário não era muito alto, mas ele tinha um jeito tão persuasivo que parecia entregar um dólar e meio de valor para cada dólar que ganhava. Nunca exagerava na moda e nunca era desleixado. Se faixas estavam na moda, Charlie tinha uma, e quando calças apertadas eram chique, Charlie usava duas camadas. Antes ou depois, Charlie sempre parecia de acordo e falava de acordo – sempre cuidadoso, atencioso, polido.
Uma tarde, depois de estar comigo por um ano ou dois, eu o encontrei voltando de sua rota parecendo sombrio; então eu dei a ele cinquenta dólares para adoçar. Eu nunca vi cinquenta dólares animarem um homem como aqueles animaram Charlie, e ele me agradeceu da maneira correta – não gaguejou e não escorregou. Eu planejei um aumento e uma promoção para Charlie naquele momento.
Logo após eu me misturei com algum trabalho em minha sala e não saí até o fim do expediente. Então, do lado de fora da minha sala estava o gerente do escritório, e ele parecia bem sombrio, também.
“Eu estava prestes a bater em sua porta”, disse ele.
“Diga?” eu perguntei.
“Charlie Chasenberry está devendo oitocentos dólares em cobranças”.
“Aham”, eu disse, sem piscar, mas perdi a esperança ali.
“Eu trouxe um policial à paisana para prende-lo essa noite, mas ele não estava”.
“Parece que ele fugiu, é?” eu perguntei.
“Acredito que sim, mas não sei como. Ele não tinha sequer um dólar essa manhã, porque ele tentou sacar de sua conta salário e eu não deixei, e ele não tinha nenhuma cobrança hoje porque ele tinha cobrado tudo o que estava vencido essa semana e perdeu jogando cartas”.
Eu não disse nada, mas suspeitei que tinha um trouxa em algum lugar no escritório. No dia seguinte eu tive certeza disso, pois eu recebi um telegrama do sempre polido e atencioso Charlie, datado de Montreal:
“Muito, muito obrigado, caro Sr. Graham, por sua assistência oportuna”.
Cuidadoso como sempre, você vê, com as pequenas coisas, pois tinha apenas dez palavras na mensagem. Mas aquele “Muito, muito obrigado, caro Sr. Graham”, foi o mais perto de escorregar que eu já vi ele chegar.
Eu considero barata essa pequena lição que Charlie me deu - por oitocentos e cinquenta dólares - e eu repasso a você porque pode lhe salvar alguns mil dólares na sua conta de experiência.
Seu pai afetuoso,
John Graham.